19 janeiro, 2008

“O maior desejo da boca é o beijo” (Zeca Baleiro)

Eu diria que é matar a fome.

E quando permito o ser político explicito que nunca soube fazer poesia.

24 dezembro, 2007

Oscar Peterson: 1925-2007

Um dos gigantes do jazz nosso de cada dia.

26 novembro, 2007


Eu queria. Não. Eu te queria. Não. Eu te queria por perto. Não muito perto, mas presente. Não. Nítida. Não a nitidez da tua imagem, até porque essa nunca fora uma de suas características. Nítida que mesmo na distância aumentada eu pudesse te ver. Faça um pacto com a minha miopia, querida. Diga a ela que tu não tem nada a ver com a revolta dela em me fazer enxergar menos. Não. Ver menos e apenas as coisas distantes, pois o que está perto eu posso milimetrar os traços da epiderme do objeto que me alcança. Diga a ela que você sempre estará distante (mesmo quando perto) e que, por isso, precisas convecê-la de me devolver a possibilidade de te ver se afastar (mesmo quando perto). Faça que se acalme, já que eu, mesmo que volte ao meu estado perene de uma observadora relapsa, não poderei ver sequer a estampa do seu vestido quando resolver usá-lo. E é por isso também que eu te queria perto. Não sei por onde anda minha Miopia e será difícil o encontro de vocês. Acho que ela anda entre as juntas do meu cérebro e a retina. Ali onde só eu posso vê-la. Na verdade, ela é completamente egoísta; me impede de te ver de longe, mas faz questão de se manter no lugar intocável do olhar desperto. Talvez aquelas cores que enxergamos quando fechamos duramente os olhos sejam, em mim, os soluços alegres da minha Miopia. Eu a vejo. Sim. Em detalhes saltitantes. Ela se fragmenta e emite cores inexistentes num arco-íris. Pois bem, será realmente complicado você convencer a Miopia de me deixar (te) ver. Ah! Porque eu não gosto dos meus óculos nem do meu sorriso quando estou com eles. Então, se você se manter perto (mesmo quando distante) enganamos a Miopia e, dessa forma, eu enxergo as tuas cores, querida.

21 junho, 2007

limpando a poeira


Pra tirar o pó um teste de retomada de postagens... como hoje chegou o inverno, segue o de Adriana Calcanhotto e Antônio Cícero:


Inverno

No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no leblon é quase glacial

Há algo que jamais se esclareceu
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei

Lá mesmo esqueci que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu reuniu-se à terra um instante por nós dois
Pouco antes de o ocidente se assombrar

06 outubro, 2006

florações da linha


(des) arrumando

16 agosto, 2006

Pra uma tarde fria e chuvosa aqui




RAMILONGA
Vitor Ramil

Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais
Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo numa canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Sobrevôo os telhados da Bela Vista
Na Chácara das Pedras vou me perder
Noites no Rio Branco, tardes no Bom Fim
Nunca mais, nunca mais
O trânsito em transe intenso antecipa a noite
Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais
Do Alto da Bronze eu vou pra Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais

08 agosto, 2006


Versos de Vinícius de Moraes

19 julho, 2006

a traça digital devora o pátio, sem remorso.
últimos suspiros?

14 julho, 2006

adélia, mulher de verdade*

ANTES DO NOME

Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém" e o "que", esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infreqüentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.

(*) espantado e feliz, acabo de ver, pela Globonews, entrevista com nossa poeta maior. Para ela, poesia é tremor, pulsação. E com Santo Irineu, sabe que a glória de Deus é o homem vivo. Por essas e por todas as outras, é que Adélia me dispara o coração. Por isso amamos Adélia.

05 julho, 2006

rescaldo da copa

atacante livre rumo à pequena área
só um beque em seu caminho
torcedor aos gritos, no alambrado:
- Ilude ele, ilude ele!

(*) fato real, Jaconi, contado por meu amigo Lionço

30 junho, 2006
















Vamos mendigar pelo pão
pelo milho, pelo mel
pelo mascavo, pelo favo
Mendigar pelo ócio
Ócio de puro estado mórbido
Estado de amor mudo.



Foto de
Marilia Gomes

22 junho, 2006

Micro Conto n°9 " A Despedida"

(Covent Garden / London - foto de Angélica Bélica)

Comemoravam Bodas de Ouro, 50 anos de casados.
Ele com 75, ela com 74.
Ao fim dos festejos beijou-lhe a testa e se foi...com a roupa do corpo.
Partiu com ânsias de conhecer um mundo.

( ...é tudo mentira ! Apareçam por lá. )
http://www.eujuroetudomentira.blogspot.com

14 junho, 2006

,

13 junho, 2006

*



A vida pode ser o que é, mas isso não é desculpa para não pôr a melhor gravata.


(*) João Pereira Coutinho, ontem, na Folha.