31 maio, 2006

- Tu vai me morder, eu sei!
- Morder?...Mas é só um beijo !?!
- É sempre assim, começam pedindo a mão, o braço, depois um beijo e já vão querendo o resto...
- Deixa de ser neurótica, eu não mordo, não dou choque!
- Neurótico é você, não pode ficar só ao meu lado, juntinho, me olhando...sem beijo.
- Mas é que eu tenho desejos.
- Controle-os.
- Um beijo.
- Não dou.
- Que saco, vou embora, não me ligue mais...me esqueça, tenho mais o que fazer, e pensar que deixei a tarada da Silvia por tua causa...eu sabia que esse corpão todo escondia uma frígida neurótica...merda.
- Espera. Que tu disse?
- Isso mesmo, "FRÍGIDA, NEURÓTICA" !
- Nunca ninguém me chamou assim...
- E tem mais...
- Pára, cala a boca...me abraça e me beija !

25 maio, 2006

angélicabélica/augustonesi

24 maio, 2006

Odegar in the backyards*

Gringuinha
Minha coloninha
Um r não faz falta
Mas você faz!

(*) mais um do P(o)etry!

23 maio, 2006

Conversa de jogo de botão*


Ó, coisas suaves, onde foram, com o vento, se esconder?
Nos parapeitos de Porto Alegre, disse o celofane.
Nos rodapés altissonantes, disse a folha de plátano.
Nas soleiras dos casarios que já morreram, disse a aquarela.

Ó, coisas levianas, onde foram, com as águas, naufragar?
Nos caderninhos de pintar de peter pan, disse a tampinha premiada de mirinda.
Nas água-fortes e lupanares e ritornelos das mil arábias,
disse o vizir embriagado de xerez ou de nanquim.
Nas madeirames e nos arames dos alçapões e das arapucas,
disse o azulejo desdentado do império russo.

Ó, coisas tão finas, onde foram, com as luzes, perpetrar?
Nas guelras dos anjos, disse o gris cipreste.
Nos nervos da chuva, disse o contraforte.
Nas paineiras ensandecidas de lua, disse o gerente da tempestade.

À gol!

(*) perdoem o delírio súbito e inevitável, nessa tarde que é uma gélida estalagmite. Sigo inédito com meu "Anel Postiço em Merengue" (Os de Lourdes, 2006), um rosário interminável de editoras dizendo que poesia não.


ofragòtof ed êlbud










!êlagiO

Se subitamente você me quiser, as coisas não serão iguais. Já tinha me acostumado a te ter com outras mais.

12 maio, 2006

Micro Conto n° 8 " O Proxeneta"

- Humm...deixe-me ver!
Sim, sim...dentes hígidos, tez clara, personalidade hierática...Levem-na, é ideal para o clérigo. Próxima !

Eu tenho muito a te dizer, mas me calo. Tenho considerações importantes, mas você se esquece que preciso de sua atenção. Tenho um encontro diário com você, mas te vejo apenas quando tu queres. Te recebo com os olhos nostálgicos que até então não os tinha. Carrego uma sacola de ovos no ônibus e você esbarra nela sem se importar com o meu cuidado para com eles. Se queres, meu querido, esperarei por tua felicidade. Esperarei para te ver soluçar em felicidade. Daquelas que o peito arrebenta e as sensações de tristeza se perdem. Quero te ver como quem nunca te viu. Permito, assim, a surpresa de ver a felicidade explodindo em ti. Como um fato novo na sua vida. Como o que pode ser eterno em mim: teus olhos de onça sorrindo de manhã.

09 maio, 2006

Poema quase edipiano para minha mãe


Ela veio em minha direção com seu sorriso encantado.

Ela me pegou pra sempre no colo, as roupas tenho amarfanhadas disso.

Ela faz sempre um risoto abençoado aos domingos.

Ela me disse que eu podia errar até achar o jeito.

Ela me disse: vai, sê anjo insone, meta os peitos!

Ela me disse que aquela camisa ela lavou e já vai estar.

Que aquela fúria um dia vai se acalmar.

Ela me viu assim ansioso e se disse preocupada.

Que só olhar de mãe deixa a alma empenada.


Ela tem várias rugas de alegria

e tem uma tosse que eu suspeito há trinta anos que é alergia

e nunca consegui tratar.

Que pulmão de mãe a gente ouve o bafejar.


Ela tem uns mil desejos mal-crescidos

e uma voz de lua ao telefone.

Ela fica longe, não me liga, faz que some.

Mas está alviçareira aqui comigo.

Que ouvido de mãe ouve inclusive o não do filho.

Ouve inclusive o ranger do chão nas solas do filho.

Ouve inclusive o sol nascer na dor do filho.


Ela veio em minha direção com seu sorriso encantado,

Seu Mal de Chagas, seu sono acordado

e costurou o dinheiro em meu bolso quando fui pra Porto Alegre fazer vestibular.

Que mão de mãe costura tudo, até botões que nunca terão casa,

até ferida que não quer serenizar.


Ela foi a minha professorinha

A minha enfermeira, minha pastora

ela foi minha polícia, minha cantora

de milongas e valsinhas a noite inteira.


Ela me disse que eu podia errar até achar o jeito

esse meu jeito de amar a ela meio sem jeito.

Que luz de mãe não faz o sol nunca faltar.

05 maio, 2006

Bens*


A galáxia
A Terra
Os olhos da morena
Um grande coração
meu amor
A rua noturna
cheia de estrelas
A mais bela das auroras
O Ser que habita em ti
Lá está o Arco-iris no fim da chuva
Os sinais não são só sinais de trânsito
O orvalho é um choro triste
A tempestade é um choro desesperado
Me abraça
é preciso fazer algo
antes que seja tarde

(*) colaboração do meu camarada Odegar Junior Petry, em plena atividade com seu cobertor de nuvens lá nos altos da Rio Branco.

03 maio, 2006

Para amiga Clarissa


Pelos teus 25 anos, pelos nossos alinhavos pela vida, pelos nossos recortes, por me ensinares a boniteza de uma boa amizade, pela sensibilidade que tens, pela artista que és, pelas coisas bonitas e singelas que personificas e confirmas nestes nossos caminhos de perto, de longe e de sempre. Pelas bobagens, pelos choros, pelas gargalhadas, pelos conselhos, pela força, pela troca, pelas artes, pela música, pelas construções comuns.
Pelo ser humano bacana, Clarissa, parabéns!
Tudo de melhor e amoroso pra ti.
Feliz Aniversário, da amiga de cá.


Querido instante de nós dois
Aquele que me preenche
Aquele que se perde
Que se prende
Pressupondo que fosse nosso
que fosse sincero
que fosse

Dois instantes queridos por nós
Aqueles de tardes claras
Aqueles de noites em claro
Em suor
Em vida
Em só

Como uma nota em clava
Como uma música sem nós
Como um amor de após
Como a cidade que não pára.


Sinto sua pele estática
seu olhar lânguido
sua vida certa
translúcida.

Sinto aquele rapaz tão próximo
tão sozinho
tão pouco.

A beleza, assim como seu sentimento opaco que arrebenta meu ritmo de viver.

*

02 maio, 2006

mútuo-socorro


Nos começos, o menino

via um demônio no teto bege,

de pé direito altíssimo,

da casa do avô.



Jovem,

achava o seu demônio

- já caído do teto –

oculto em outras pessoas,

entre ofendido e emancipado,

só dado a ver-se em algum esgar,

no vão entre as sobrancelhas,

no modo de tocar um copo

ou a haste de um gladíolo.


Quando velho,

entre o leito e a pia,

convivia já tranqüilamente com seu demônio

e este, sóbrio, terno e gravata,

aquecia-lhe os pés

e entornava-lhe o chá

das esperanças desaprendidas.