09 maio, 2006

Poema quase edipiano para minha mãe


Ela veio em minha direção com seu sorriso encantado.

Ela me pegou pra sempre no colo, as roupas tenho amarfanhadas disso.

Ela faz sempre um risoto abençoado aos domingos.

Ela me disse que eu podia errar até achar o jeito.

Ela me disse: vai, sê anjo insone, meta os peitos!

Ela me disse que aquela camisa ela lavou e já vai estar.

Que aquela fúria um dia vai se acalmar.

Ela me viu assim ansioso e se disse preocupada.

Que só olhar de mãe deixa a alma empenada.


Ela tem várias rugas de alegria

e tem uma tosse que eu suspeito há trinta anos que é alergia

e nunca consegui tratar.

Que pulmão de mãe a gente ouve o bafejar.


Ela tem uns mil desejos mal-crescidos

e uma voz de lua ao telefone.

Ela fica longe, não me liga, faz que some.

Mas está alviçareira aqui comigo.

Que ouvido de mãe ouve inclusive o não do filho.

Ouve inclusive o ranger do chão nas solas do filho.

Ouve inclusive o sol nascer na dor do filho.


Ela veio em minha direção com seu sorriso encantado,

Seu Mal de Chagas, seu sono acordado

e costurou o dinheiro em meu bolso quando fui pra Porto Alegre fazer vestibular.

Que mão de mãe costura tudo, até botões que nunca terão casa,

até ferida que não quer serenizar.


Ela foi a minha professorinha

A minha enfermeira, minha pastora

ela foi minha polícia, minha cantora

de milongas e valsinhas a noite inteira.


Ela me disse que eu podia errar até achar o jeito

esse meu jeito de amar a ela meio sem jeito.

Que luz de mãe não faz o sol nunca faltar.

2 comentários:

Caleidoscópio Eterno disse...

querido Marco... quase edipiano... quase tudo... lindo daqueles que se pode ler sem querer ler, mas as letras explícitas não permitem que as palavras fiquem à toa.

Augusto Nesi disse...

Muito Bom Marco.