Um estrondo assustador, ruído de vidros estilhaçados e metal se retorcendo. Calor. Umidade. Líquidos. Já não sabia quanto tempo havia passado desde que estas sensações sobrevieram. De algum modo estava encostado em uma árvore ou algo assim, sentindo um misto de prazer e quietude com o contato da terra misturado ao cheiro de vegetação. Mato. Parecia ser eu um passivo assistente de uma peça teatral, não fosse um filete de sangue – achava que era sangue – escorrendo lenta e mornamente sobre minha face. Fiquei olhando para aquilo que lembrava vagamente um automóvel e que agora, contorcido, parecia uma escultura de um ser indefinido abraçando a si mesmo. Estava sozinho. Grande novidade. Desta vez, por um instante, quis agradecer por isto. Mas só por um instante. Ao longe quase que escutava uma sirene nervosa a aproximar-se. Lentamente. Morte. Passou-me esta idéia pela cabeça enquanto ficava cada vez mais leve e sereno. Não era uma má idéia.
E eu sempre soubera disto.
(*) com esse texto estréia no blogue o meu amigo e colega de lides quintafeirísticas Miguel Grazziotin. Que mande sempre seus textos pra cá. Benvindo, Miguelito.
Um comentário:
é que o de repente acontece assim...
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