23 maio, 2006

Conversa de jogo de botão*


Ó, coisas suaves, onde foram, com o vento, se esconder?
Nos parapeitos de Porto Alegre, disse o celofane.
Nos rodapés altissonantes, disse a folha de plátano.
Nas soleiras dos casarios que já morreram, disse a aquarela.

Ó, coisas levianas, onde foram, com as águas, naufragar?
Nos caderninhos de pintar de peter pan, disse a tampinha premiada de mirinda.
Nas água-fortes e lupanares e ritornelos das mil arábias,
disse o vizir embriagado de xerez ou de nanquim.
Nas madeirames e nos arames dos alçapões e das arapucas,
disse o azulejo desdentado do império russo.

Ó, coisas tão finas, onde foram, com as luzes, perpetrar?
Nas guelras dos anjos, disse o gris cipreste.
Nos nervos da chuva, disse o contraforte.
Nas paineiras ensandecidas de lua, disse o gerente da tempestade.

À gol!

(*) perdoem o delírio súbito e inevitável, nessa tarde que é uma gélida estalagmite. Sigo inédito com meu "Anel Postiço em Merengue" (Os de Lourdes, 2006), um rosário interminável de editoras dizendo que poesia não.


5 comentários:

Caleidoscópio Eterno disse...

Seu,
Poesia sim,
pelo menos
pra mim!

Anônimo disse...

maravilhoso. que verve.
tu sempre surpreendendo!

Anônimo disse...

Gringuinha
Minha coloninha
Um r não faz falta
Mas você faz!

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Odegar Petry


Marco não fica grilado vamos lançar uma revista de poesia em Caxias sem igrejas, que tal!

Augusto Nesi disse...

Quero fazer parte da revista !
Pode colocar meu nome no editorial.

Anônimo disse...

Tenho um sugestao pro nome:
PÔetas..