27 março, 2006
uma balada para Loreto*
em algumas horas a cidade vibra
como uma moela dentro de uma cuba
como o fremir de uma rotativa
são lá seis horas e já se desabam os primeiros ônibus
sobre as ruas e são vários e violentos
os rugidos de motores na garganta de motoristas sonolentos
é lá meio-dia e já fustigam seus açoites engraxados
os pedais das bicicletas, os elevadores
as mãos de metal cinzapálido dos corrimões
onde outras mãos rosapálidas fraquejam ou não
mas tudo ruge
ensolarado e rude
tudo ruge
cinco da tarde e já são horas
dos passos reboarem nos cordões de calçada
nas passarelas, nos viadutos, nas paradas de ônibus
os passos de dentro como se aos pedaços caminhassem corações
por sobre a laje o lodo a pátina e o piche
e a falsa pedra e o falso piso decorflex tangido pelas rodas escuras das macas
e pelas solas dos sapatos de criaturas rosapálidas, cinzapálidas
crisálidas de aço, flébeis, que vão e vêm
no rumo de suas casas, de seus quartéis,
até o genuflexório nosso de cada dia
até o gesto inato de morder o pão
de espantar as moscas espanar casacos
até que chegue a violeta hora
e tudo vibrará às vinte e três
na saída das escolas
nos postos de gasolina
nos semáforos
e em outros tantos lugares inexoráveis e ingênuos
e então tudo irá se perdendo
tudo a se esboroar
sem sufoco
até que se ouça tampouco
nem só o silêncio do desenrolar de uma gavinha
tarde da noite
nos vinhedos longe
em Loreto
(*)in: Anel Postiço em Merengue, Anzol da Lua Editores, bairro de Lourdes, Terra.
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6 comentários:
Meu, muito bonito....parabéns.
Esperemos o livro....
Muito bom!
marco,gostei muito.
saudade. sai um dia desses um jantar no pátio?
besitos
gracias a todos pelas palavras.
TEMOS que fazer uma janta.
Miguel e CC sintam-se convidados.
que boniteza, marco.
desse jeito o pés de aragem vai ter edição dupla.
concordo da janta. seria bem bacana.
saudades também.
Oba!
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