06 outubro, 2006

florações da linha


(des) arrumando

16 agosto, 2006

Pra uma tarde fria e chuvosa aqui




RAMILONGA
Vitor Ramil

Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais
Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo numa canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Sobrevôo os telhados da Bela Vista
Na Chácara das Pedras vou me perder
Noites no Rio Branco, tardes no Bom Fim
Nunca mais, nunca mais
O trânsito em transe intenso antecipa a noite
Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais
Do Alto da Bronze eu vou pra Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais

08 agosto, 2006


Versos de Vinícius de Moraes

19 julho, 2006

a traça digital devora o pátio, sem remorso.
últimos suspiros?

14 julho, 2006

adélia, mulher de verdade*

ANTES DO NOME

Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém" e o "que", esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infreqüentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.

(*) espantado e feliz, acabo de ver, pela Globonews, entrevista com nossa poeta maior. Para ela, poesia é tremor, pulsação. E com Santo Irineu, sabe que a glória de Deus é o homem vivo. Por essas e por todas as outras, é que Adélia me dispara o coração. Por isso amamos Adélia.

05 julho, 2006

rescaldo da copa

atacante livre rumo à pequena área
só um beque em seu caminho
torcedor aos gritos, no alambrado:
- Ilude ele, ilude ele!

(*) fato real, Jaconi, contado por meu amigo Lionço

30 junho, 2006
















Vamos mendigar pelo pão
pelo milho, pelo mel
pelo mascavo, pelo favo
Mendigar pelo ócio
Ócio de puro estado mórbido
Estado de amor mudo.



Foto de
Marilia Gomes

22 junho, 2006

Micro Conto n°9 " A Despedida"

(Covent Garden / London - foto de Angélica Bélica)

Comemoravam Bodas de Ouro, 50 anos de casados.
Ele com 75, ela com 74.
Ao fim dos festejos beijou-lhe a testa e se foi...com a roupa do corpo.
Partiu com ânsias de conhecer um mundo.

( ...é tudo mentira ! Apareçam por lá. )
http://www.eujuroetudomentira.blogspot.com

14 junho, 2006

,

13 junho, 2006

*



A vida pode ser o que é, mas isso não é desculpa para não pôr a melhor gravata.


(*) João Pereira Coutinho, ontem, na Folha.

07 junho, 2006

Coração na ponta dos dedos

Os chãos, os tetos, as luzes e as sombras do Teatro Municipal, meu filho João Caetano – e o público - testemunharam noite de ontem a performance afetuosa e habilidosa de um trio de músicos que não deve nada a ninguém, nem daqui nem de fora: Léo Ferrarini, ao piano, Fábio Alves, no baixo elétrico e acústico, e Marcinho Pereira na bateria e percussão, no lançamento do CD “Batedô”, de Léo Ferrarini, trabalho financiado pelo Fundoprocultura e gravado ali mesmo alguns poucos meses antes, take a take, como os antigos e seminais discos de jazz.

O que se ouviu foi música instrumental calcada em jazz de primeira grandeza, fazendo jus às influências declaradas do pianista na obra de Heitor Villa-Lobos (estava lá o “Trenzinho Caipira”) e Egberto Gismonti (de quem tocou tema centrado em “Forrobodó”) e – pude confirmar minha suspeita conversando com Léo, após o show e durante o vinho – na maravilhosa contribuição do talvez maior dos pianistas de jazz de todos os tempos: o genial Bill Evans.

Parênteses aqui. Léo detém aquela relíquia que faz falta àqueles que só possuem técnica: tem coração, alma, afeto que se evola dos dedos e acaricia o chiaroscuro do piano, daí minha suspeita de que a luz de um Bill Evans pairasse liricamente no ar por sobre nossos chapéus. Dizia-me a amiga Monica Montanari, contribuidora deste blogue aqui, quando o pianista ficou sozinho no palco, que “agora ele esqueceu do show, só está curtindo”. E que honra pra nós poder compartilhar da curtição do artista, público que saiu – pelo menos aqueles com quem conversei – extraordinariamente feliz e tocado pelas mãos sensíveis do trio.

Uma palavra sobre o CD: como se poderia esperar de um trabalho de tão fina tessitura poética, o encarte está primoroso, com a temática do coração e o trabalho gráfico – que foi projetado no palco durante o show - em sintonia com a qualidade da obra musical.


Fábio - já o tinha ouvido antes com Oscar do Reis (que participa também de “Batedô”) e em seu trabalho em rock progressivo - segue em sua trajetória luminosa, com seu contrabaixo luxuoso e de extrema qualidade técnica. E Márcio, uma grata surpresa para nós, porém não para Ferrarini, que o definiu como portador de um talento fora do comum. Foi o que vimos, no mais, dos três músicos à nossa frente.

Esta é uma Obra mesmo, com letra maiúscula. Isso o que esses músicos de primeira grandeza, repito, trazem pra esse nosso tonto mundo, e pra nossos corações desejosos de leveza, alegria e boas vibrações.

Parabéns, Troian e Renata, pelo feito!

Evoé, Léo, Fábio e Márcio! Gracias por existirem!

As fotos são de celular, daí talvez sua baixa resolução, mas são, por assim dizer, de coração.

04 junho, 2006

resposta-sanduíche pelos teus 38*

do outro lado, o velho marco,
hippie-lebowski, uruguaianense do mundo,
criticando a moça do ai-ai-ai
à margem fico eu,
sem ter como retrucar às suas eruditices,
os seus modos de implicar
na próxima, capricha, meu velho
não faça troça de vanessa,
desvela tua escuta peculiar.
assume, em tuas doses homeopáticas,
em teus poemas confessionais,
em tuas adoráveis digressões enigmáticas
grita alto e sem receio:
sim, eu confesso!
também gosto de pastiches.
* parabéns, amigo. meu melhor abraço.

02 junho, 2006

o tempo passa, nos aniquila, nos arrebata...*

mas eu continuo achando muito chata
a tal da vanessa da mata.

aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaaaaaaai.

(*) para minha amiga duelista de plantão e parceira de mais de 518 músicas, Camila Cornutti.

.

aqui agora também.

31 maio, 2006

- Tu vai me morder, eu sei!
- Morder?...Mas é só um beijo !?!
- É sempre assim, começam pedindo a mão, o braço, depois um beijo e já vão querendo o resto...
- Deixa de ser neurótica, eu não mordo, não dou choque!
- Neurótico é você, não pode ficar só ao meu lado, juntinho, me olhando...sem beijo.
- Mas é que eu tenho desejos.
- Controle-os.
- Um beijo.
- Não dou.
- Que saco, vou embora, não me ligue mais...me esqueça, tenho mais o que fazer, e pensar que deixei a tarada da Silvia por tua causa...eu sabia que esse corpão todo escondia uma frígida neurótica...merda.
- Espera. Que tu disse?
- Isso mesmo, "FRÍGIDA, NEURÓTICA" !
- Nunca ninguém me chamou assim...
- E tem mais...
- Pára, cala a boca...me abraça e me beija !

25 maio, 2006

angélicabélica/augustonesi

24 maio, 2006

Odegar in the backyards*

Gringuinha
Minha coloninha
Um r não faz falta
Mas você faz!

(*) mais um do P(o)etry!

23 maio, 2006

Conversa de jogo de botão*


Ó, coisas suaves, onde foram, com o vento, se esconder?
Nos parapeitos de Porto Alegre, disse o celofane.
Nos rodapés altissonantes, disse a folha de plátano.
Nas soleiras dos casarios que já morreram, disse a aquarela.

Ó, coisas levianas, onde foram, com as águas, naufragar?
Nos caderninhos de pintar de peter pan, disse a tampinha premiada de mirinda.
Nas água-fortes e lupanares e ritornelos das mil arábias,
disse o vizir embriagado de xerez ou de nanquim.
Nas madeirames e nos arames dos alçapões e das arapucas,
disse o azulejo desdentado do império russo.

Ó, coisas tão finas, onde foram, com as luzes, perpetrar?
Nas guelras dos anjos, disse o gris cipreste.
Nos nervos da chuva, disse o contraforte.
Nas paineiras ensandecidas de lua, disse o gerente da tempestade.

À gol!

(*) perdoem o delírio súbito e inevitável, nessa tarde que é uma gélida estalagmite. Sigo inédito com meu "Anel Postiço em Merengue" (Os de Lourdes, 2006), um rosário interminável de editoras dizendo que poesia não.


ofragòtof ed êlbud










!êlagiO

Se subitamente você me quiser, as coisas não serão iguais. Já tinha me acostumado a te ter com outras mais.

12 maio, 2006

Micro Conto n° 8 " O Proxeneta"

- Humm...deixe-me ver!
Sim, sim...dentes hígidos, tez clara, personalidade hierática...Levem-na, é ideal para o clérigo. Próxima !

Eu tenho muito a te dizer, mas me calo. Tenho considerações importantes, mas você se esquece que preciso de sua atenção. Tenho um encontro diário com você, mas te vejo apenas quando tu queres. Te recebo com os olhos nostálgicos que até então não os tinha. Carrego uma sacola de ovos no ônibus e você esbarra nela sem se importar com o meu cuidado para com eles. Se queres, meu querido, esperarei por tua felicidade. Esperarei para te ver soluçar em felicidade. Daquelas que o peito arrebenta e as sensações de tristeza se perdem. Quero te ver como quem nunca te viu. Permito, assim, a surpresa de ver a felicidade explodindo em ti. Como um fato novo na sua vida. Como o que pode ser eterno em mim: teus olhos de onça sorrindo de manhã.

09 maio, 2006

Poema quase edipiano para minha mãe


Ela veio em minha direção com seu sorriso encantado.

Ela me pegou pra sempre no colo, as roupas tenho amarfanhadas disso.

Ela faz sempre um risoto abençoado aos domingos.

Ela me disse que eu podia errar até achar o jeito.

Ela me disse: vai, sê anjo insone, meta os peitos!

Ela me disse que aquela camisa ela lavou e já vai estar.

Que aquela fúria um dia vai se acalmar.

Ela me viu assim ansioso e se disse preocupada.

Que só olhar de mãe deixa a alma empenada.


Ela tem várias rugas de alegria

e tem uma tosse que eu suspeito há trinta anos que é alergia

e nunca consegui tratar.

Que pulmão de mãe a gente ouve o bafejar.


Ela tem uns mil desejos mal-crescidos

e uma voz de lua ao telefone.

Ela fica longe, não me liga, faz que some.

Mas está alviçareira aqui comigo.

Que ouvido de mãe ouve inclusive o não do filho.

Ouve inclusive o ranger do chão nas solas do filho.

Ouve inclusive o sol nascer na dor do filho.


Ela veio em minha direção com seu sorriso encantado,

Seu Mal de Chagas, seu sono acordado

e costurou o dinheiro em meu bolso quando fui pra Porto Alegre fazer vestibular.

Que mão de mãe costura tudo, até botões que nunca terão casa,

até ferida que não quer serenizar.


Ela foi a minha professorinha

A minha enfermeira, minha pastora

ela foi minha polícia, minha cantora

de milongas e valsinhas a noite inteira.


Ela me disse que eu podia errar até achar o jeito

esse meu jeito de amar a ela meio sem jeito.

Que luz de mãe não faz o sol nunca faltar.

05 maio, 2006

Bens*


A galáxia
A Terra
Os olhos da morena
Um grande coração
meu amor
A rua noturna
cheia de estrelas
A mais bela das auroras
O Ser que habita em ti
Lá está o Arco-iris no fim da chuva
Os sinais não são só sinais de trânsito
O orvalho é um choro triste
A tempestade é um choro desesperado
Me abraça
é preciso fazer algo
antes que seja tarde

(*) colaboração do meu camarada Odegar Junior Petry, em plena atividade com seu cobertor de nuvens lá nos altos da Rio Branco.

03 maio, 2006

Para amiga Clarissa


Pelos teus 25 anos, pelos nossos alinhavos pela vida, pelos nossos recortes, por me ensinares a boniteza de uma boa amizade, pela sensibilidade que tens, pela artista que és, pelas coisas bonitas e singelas que personificas e confirmas nestes nossos caminhos de perto, de longe e de sempre. Pelas bobagens, pelos choros, pelas gargalhadas, pelos conselhos, pela força, pela troca, pelas artes, pela música, pelas construções comuns.
Pelo ser humano bacana, Clarissa, parabéns!
Tudo de melhor e amoroso pra ti.
Feliz Aniversário, da amiga de cá.


Querido instante de nós dois
Aquele que me preenche
Aquele que se perde
Que se prende
Pressupondo que fosse nosso
que fosse sincero
que fosse

Dois instantes queridos por nós
Aqueles de tardes claras
Aqueles de noites em claro
Em suor
Em vida
Em só

Como uma nota em clava
Como uma música sem nós
Como um amor de após
Como a cidade que não pára.


Sinto sua pele estática
seu olhar lânguido
sua vida certa
translúcida.

Sinto aquele rapaz tão próximo
tão sozinho
tão pouco.

A beleza, assim como seu sentimento opaco que arrebenta meu ritmo de viver.

*

02 maio, 2006

mútuo-socorro


Nos começos, o menino

via um demônio no teto bege,

de pé direito altíssimo,

da casa do avô.



Jovem,

achava o seu demônio

- já caído do teto –

oculto em outras pessoas,

entre ofendido e emancipado,

só dado a ver-se em algum esgar,

no vão entre as sobrancelhas,

no modo de tocar um copo

ou a haste de um gladíolo.


Quando velho,

entre o leito e a pia,

convivia já tranqüilamente com seu demônio

e este, sóbrio, terno e gravata,

aquecia-lhe os pés

e entornava-lhe o chá

das esperanças desaprendidas.

24 abril, 2006















Simplesmente perfeito...escute aqui!

Um verso dedicado


E se ficar triste, lembre que algodão-doce é bom e colorido.
E que a vida pode ser assim, em algum lugar, com alguém, algum dia.

18 abril, 2006

AMIGO É CASA

Amigo é feito casa que se faz aos poucos
e com paciência pra durar pra sempre
Mas é preciso ter muito tijolo e terra
preparar reboco, construir tramelas
Usar a sapiência de um João-de-barro
que constrói com arte a sua residência
há que o alicerce seja muito resistente
que às chuvas e aos ventos possa então a proteger
E há que fincar muito jequitibá
e vigas de jatobá
e adubar o jardim e plantar muita flor touceiras de resedás
não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar
que os cabelos brancos vão surgindo
Que nem mato na roceira
que mal dá pra capinar
e há que ver os pés de manacá
cheinhos de sabiás
sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis
choro de imaginar!
pra festa da cumeeira não faltem os violões!
muito milho ardendo na fogueira
e quentão farto em gengibre
aquecendo os corações
A casa é amizade construída aos poucos
e que a gente quer com beira e tribeira

Com gelosia feita de matéria rara
e altas platibandas, com portão bem largo
que é pra se entrar sorrindo
nas horas incertas
sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
faz-se quase transparente sem deixar-se perceber
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
e oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem
quando não tem, finge que tem,
faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão.

Recebi um telefonema de um amigo que não vejo a muito tempo, me dando os parabéns....nem sabia, mas hoje é dia do amigo...vai aí esse belo choro do Capiba com letra do grande Hermínio


Roubo versos
desavergonhadamente
como quem toma emprestado um lápis do colega
e não devolve ao passar dos dias
como quem quer escrever rabiscos pela vida afora
mas não tem apontador

17 abril, 2006

Cidade Bossa lança sua programação inaugural

Seguindo as dicas do Diogo, envio aí a programação bacana do Cidade Bossa aqui em Porto Alegre. Tem shows aí que não dá pra perder.

===

O projeto Bossas Brasileiras apresenta música de boa qualidade em shows nacionais
Grupos de Porto Alegre estão na agenda da nova casa de espetáculos da cidade

O Cidade Bossa apresenta sua programação para o primeiro semestre. Dentro do projeto intitulado Bossas Brasileiras, shows nacionais de muita qualidade e diversidade. Também a produção local está sendo cuidadosamente escolhida..

Entre o jazz (tradicional e contemporâneo) e mpb em todas suas variações (chorinho, samba, etc.), o Cidade Bossa programou para o primeiro semestre shows de Arrigo Barnabé e Tetê Spíndola, Edu Lobo, Cida Moreyra, Jards Macalé, João Donato, Robertinho Silva e Luis Alves. Na programação local, também nomes de peso e qualidade: Paulo Dorfmann Trio, Jua Ferreira Trio, Luizinho Santos e Bethy Krieger e, ainda, uma programação diversificada aos domingos.

Sob a coordenação de Jair Quevedo, proprietário do restaurante Lugar Comum e da Sala Jazz Tom Jobim, espaços que fizeram história em Porto Alegre na década de 80, o Cidade Bossa veio para ficar. No cardápio drinques longos e curtos e os petiscos que eram servidos na antiga Sala Jazz, como o tradicional aipim frito da casa, iscas de filé grelhadas, coração de frango flambado e provolone à milaneza.

Os shows nacionais serão sempre nas terças, quartas e quintas. Confira a programação:

Projeto Bossas Brasileiras
Os ingressos custarão, em média, 40 reais

Dias 18, 19 e 20 de abril - Arrigo Barnabé e Tetê Espíndola
Dias 9, 10 e 11 de maio – Jards Macalé
Dias 6, 7 e 8 de junho - Edu Lobo
Dias 4, 5 e 6 de julho - Cida Moreyra
Dias 8, 9 e 10 de agosto - João Donato, Robertinho Silva e Luis Alves

Demais shows
Ingressos a 7 reais
Quintas-feiras - Luizinho Santos e Bethy Krieger
Sextas e sábados - Paulo Dorfmann Trio

Cidade Bossa
Rua Otávio Corrêa, 35 – Cidade Baixa
Horário de funcionamento: das 20h às 2h
cidadebossa@gmail.com

Unimúsica - 2006


O Unimúsica de 2006, promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, completa 25 anos este ano. A programação do projeto estará em breve aqui, os shows acontecem no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre. Adianto algumas atrações:

- 4 de maio - Velha Guarda da Portela. Promete ser um grande show...
- 1º de junho - Os violeiros Paulo Freire e Manoel de Oliveira mostram a tradição da viola do sertão...
- 6 de julho - O flautista Carlos Zens e grupo apresentam manifestações folclóricas do Rio Grande do Norte como auto do boi de reis, caboclinhos e cocos
- 3 de agosto - O Quarteto Maogani e o cantor Renato Braz vão tocar antigas modinhas das serenatas brasileiras... IMPERDÍVEL!!!!
- 24 de setembro - Siba e a Fuloresta trazem a ciranda e o maracatu rural da zona da mata pernambucana
- 5 de outubro - O Quartchêto, premiados com quatro troféus Açorianos 2006 e o gaiteiro Gilberto Monteiro mandam ver no chamamé, na rancheira e no vanerão. Vale a pena conferir!
- 11 de outubro - Unimusiquinha com Banda de Marchinhas Tradicionais Amigos do Sílvio, fazendo uma folia carnavalesca para público infantil. Às 10h e às 15h, com entrada franca
- 9 de novembro - Baile de Carnaval com as marchinhas clássicas dos anos 30 e 40 com direção do compositor Nelson Coelho de Castro, comentários de Arthur de Faria e Juarez Fonseca, arranjos de Cristóvão Bastos, Toneco da Costa e Luizinho Santos e a participação de Jussara Silveira e Mônica Tomasi, Mário Carvalho, Alex Jardim, Humberto Rosa, Fernando do Ó, Giovani Berti e Ricardo Arenhaldt

13 abril, 2006

Sim

...mas não procures entender-me, faze-me apenas companhia.
Sei que tua mão me largaria, se soubesse.
Clarice Lispector- Paixão Segundo G.H
...e como é fértil um corpo com sombra

05 abril, 2006

Arrepio*


Unhas no isopor
torpor sem sol
Dentes rangem serrados
como giz no quadro negro
Áspero sigo no estriado
O trem no trilho
Atrito
faisca
Chão de cascalho
sapatos de alpinista
Chuva de pedra
teto de zinco
frágua

(*)contibuto do amigo Petry, também conhecido no Bairro Rio Branco como Seu Odegar, grande amigo, grande cara, vasta alma. Ao que tudo indica o amigo está a preparar seu primeiro livro-sólo. Ilustra esse postado aqui: Pollock.

29 março, 2006

qual teu Deus, poeta?*


poeta, qual o teu Deus?

tem duas faces e um nome
e um disfarce sem nome
tem quatro letras insones
que brilham no céu dos homens

qual, poeta,
teu Deus de hoje?


como faz o que te crie
em papel de almaço velho
riscado a caneta bic
ou o impresso aos excessos
numa esquina do Iraque

qual teu Deus, poeta?

o me acuda o me salve
ou me livre ou me guarde
mas não me torne cobarde
se não Te vejo nos ramos
das oliveiras postiças
que vigem nas megastores
sem que a Virgem evapore
da lágrima dos reclames?

mas o teu Deus
de hoje?


o te proteja e acompanhe
o que me é grande e te pague
um Deus de corda e arame
velame cedro alabastro

um Deus que é preso no espelho
ou um Deus solto no espaço
esse o teu Deus de hoje

um Deus suspenso no vento
de mil voragens mostarda
se eu quero que Deus me queime
mas eu não quero fogueira
se eu quero que Deus me arda!

mas não quero Torquemada.

(*) espero que os colaboradores do blogue e os contumazes comentadores de plantão respondam a essa Provocação que lhes faço, e, bem, falemos um pouco Disso. Se preferirem, todavia, falemos da janta. Ou ambos.

28 março, 2006

JÁ ME BASTA (Bruno Batista)

POR QUE HABITAS O MEU COBERTOR
EU NEM DOU CONTA DE ME DORMIR
DE QUE SONHOS PEGASTE HORROR
QUE É PRA EU NÃO BULIR

FOI UM ANJO QUE TE VISITOU
E CISMOU DE TOCAR UM FLAUTIM
NÃO ME DIGAS QUE É COISA DE AMOR
QUE AMOR SÓ DÁ EM MIM

QUE BANDEIRA TU TRAÍSTE
E INSISTE EM SER MEU INVASOR
ENTENDA, EU PERTENÇO A OUTRA CASTA
A MORTALHA DO AMOR JÁ ME BASTA
DEIXE EM PAZ MINHA DOR

POR QUE GUARDAS O MEU CORREDOR
EU NEM TENHO A CONTA DE PARTIR
DE QUE TERRAS GARRASTE PAVOR
QUE É PRA EU FUGIR

TERÁ SIDO SOM DE CAÇADOR
OU QUEM SABE FALTOU MOCASSIM
NÃO ME DIGAS QUE É COISA DE AMOR
QUE AMOR SÓ DÁ EM MIM

QUE BANDEIRA TU TRAÍSTE
E INSISTE EM SER MEU INVASOR
ENTENDA, EU PERTENÇO A OUTRA CASTA
A MORTALHA DO AMOR JÁ ME BASTA
DEIXE EM PAZ MINHA DOR


Xará de Meireles, Cecília, e o que não posso esquecer de comprar para o “gurizinho”, leite. Foi assim que fiz para não esquecer esse nome, Cecília Leite. Havia acabado de escutar “já me basta” na rádio, eram 18:30, estava voltando pra casa e escutando a FM Cultura. Realmente essa música me chamou a atenção, “vocês acabaram de ouvir Cecília Leite, de Bruno Batista
, já me basta”. Pensei, que cantora é esta... e quem é esse compositor...

No outro dia pela manhã anotei em minha agenda seu nome e fui trabalhar. A anotação ficou pulando de folha em folha, dia a dia até que tivesse um tempinho livre para pesquisar na internet . Pouco encontrei a respeito dela, mas consegui escutar aqui um pouco.

Adquiri o cd e tive a prazerosa surpresa de ser bem melhor do que eu imaginava, realmente é um grande trabalho de estréia dessa cantora que promete. Repertório, arranjos (Alberto Farah e Leandro Braga) e interpretações belíssimas.

Destaque também para “dis-mois comment”, inédita versão para “eu te amo” de parceria com Tom Jobim, feita e cantada pelo próprio Chico no cd, com Benjamim Taubkin no piano.

Bruno Batista (autor da canção citada) é um jovem compositor de São Luís – MA, está com 25 anos, já gravou um cd em 2003 e atualmente reside no Rio. É bom ficar atento para este nome.

Para aqueles que passeiam por esses pátios, aí vai a dica.
Esse blogue agradece a gentileza e persistência e presteza do amigo Mauro Kardel Hött, que se debruçou sobre a parafernália criptográfica em estado de coma e ressuscitou a estes nossos pátios aqui. Grande Mauro!

Contínuo

deixe o quarto como está
deixe a porta na janela
o lustre sobre a cama
o único retrato na saudade
deixe o armário aberto
com a poeira daquele dia em que segurei na tua mão
e te levei daqui
deixe o quarto como está
e não esqueça a nossa casa

27 março, 2006

uma balada para Loreto*


em algumas horas a cidade vibra
como uma moela dentro de uma cuba

como o fremir de uma rotativa


são lá seis horas e já se desabam
os primeiros ônibus
sobre as ruas
e são vários e violentos
os rugidos de motores
na garganta de motoristas sonolentos

é lá meio-dia e já fustigam seus açoites engraxados

os pedais das bicicletas, os elevadores

as mãos de metal cinzapálido dos corrimões

onde outras mãos rosapálidas fraquejam ou não

mas tudo ruge

ensolarado e rude

tudo ruge


cinco da tarde e já são horas

dos passos reboarem nos cordões de calçada
nas passarelas, nos viadutos, nas paradas de ônibus

os passos de dentro como se aos pedaços caminhassem corações

por sobre a laje o lodo a pátina e o piche

e a falsa pedra e o falso piso decorflex tangido
pelas rodas escuras das macas
e pelas solas dos sapatos
de criaturas rosapálidas, cinzapálidas
crisálidas de aço, flébeis, que vão e vêm

no rumo de suas casas, de seus quartéis,

até o genuflexório nosso de cada dia

até o gesto inato de morder o pão

de espantar as moscas
espanar casacos
até que chegue a violeta hora


e tudo vibrará às vinte e três

na saída das escolas

nos postos de gasolina
nos semáforos

e em outros tantos lugares inexoráveis e ingênuos

e então tudo irá se perdendo

tudo a se esboroar

sem sufoco

até que se ouça tampouco
nem só
o silêncio do desenrolar de uma gavinha
tarde da noite

nos vinhedos longe
em Loreto

(*)in: Anel Postiço em Merengue, Anzol da Lua Editores, bairro de Lourdes, Terra.

24 março, 2006

sim, o blogue voltou.

20 março, 2006

Aquele rapaz de olhos oblíquos de pele tostada de expressão hermética
Ele parece ter ido a Cuba, mas só carrega no peito um ideal como o meu.

Aquele rapaz de cuia e sem botas e shorts branco
Ele parece carregar as donas e as mucambas no coração, mas só acredita no amor que ainda não teve.

Aquele rapaz de desconhecidos encontros e substanciais enigmas
Ele corre à margem, mas só encontra ele mesmo refletido n'água.

Eu só observo e tiro algumas conclusões possivelmente falsas.

Porque aqui faz calor e eu durmo sem roupas e acordo cedo com a janela escancarada, deixando o sol na cara me deixar transtornada logo pela manhã.
Porque hoje o trem quebrou e eu conversei com tanta gente diferente que de repente não sabia mais quem eu era e onde estava.
Porque eu escuto John Coltrane enquanto tomo um suco de limão e penso que a vida pode sim ser refrescante em tantos sentidos.
Porque há pouco eu aprendi o conceito de intuição, de virtualidades e do devir e isso, de alguma forma, já mudou tanto do que eu achava que sabia.
Porque nesse momento a tarde cai, minha roupa seca no varal e eu sinto saudades de certas coisas, daquelas saudades boas de se sentir.
Porque eu já não sou quem eu era ontem, porque eu já não sou quem eu era agora, porque alguém me liga e eu percebo que sim, eu simplesmente sou.
Porque imaginar o final de semana traz gosto de merecimento, porque minha preguiça passou e porque se permitir é tão incrível quanto Neil Armstrong pisar na lua.
Porque já dá pra ver a lua, porque amanhã é sexta-feira, porque eu gosto de cortar a unha e roer logo em seguida.
Porque descobri o quão legal uma criança pode ser, porque laços não se quebram, porque minha casa nova é agora a minha casa.
Porque o cinema já existia antes do cinema, porque champignon e pão preto é o que tenho na geladeira, porque o suor escorre nessas tardes de verão.
Porque talvez tantas coisas, porque talvez tantas outras, porque a incerteza seduz, porque é bom à meia luz.
Porque meu olho se cerra no momento em que encerra a plenitude dos dias.
Porque esse é um tempo espantosamente e deliberadamente otimista.
Porque me convenci.
A única coisa que vai se eternizar é o afeto.
* a foto é uma colaboração especial da minha mãe, Cora, que fez o clique no Chile, na prainha frequentada por Pablo Neruda.

15 março, 2006

Lentamente*

Um estrondo assustador, ruído de vidros estilhaçados e metal se retorcendo. Calor. Umidade. Líquidos. Já não sabia quanto tempo havia passado desde que estas sensações sobrevieram. De algum modo estava encostado em uma árvore ou algo assim, sentindo um misto de prazer e quietude com o contato da terra misturado ao cheiro de vegetação. Mato. Parecia ser eu um passivo assistente de uma peça teatral, não fosse um filete de sangue – achava que era sangue – escorrendo lenta e mornamente sobre minha face. Fiquei olhando para aquilo que lembrava vagamente um automóvel e que agora, contorcido, parecia uma escultura de um ser indefinido abraçando a si mesmo. Estava sozinho. Grande novidade. Desta vez, por um instante, quis agradecer por isto. Mas só por um instante. Ao longe quase que escutava uma sirene nervosa a aproximar-se. Lentamente. Morte. Passou-me esta idéia pela cabeça enquanto ficava cada vez mais leve e sereno. Não era uma má idéia.
E eu sempre soubera disto.


(*) com esse texto estréia no blogue o meu amigo e colega de lides quintafeirísticas Miguel Grazziotin. Que mande sempre seus textos pra cá. Benvindo, Miguelito.

14 março, 2006

meu amor eu te quando


meu amor eu te quando

meu amor eu te ontem

meu amor eu te claro

meu amor eu te tanto


meu amor eu me calo

meu amor eu me canto

meu amor eu me falo

meu amor eu me imanto


meu amor eu te quase

meu amor eu te noite

meu amor eu te vaso

meu amor eu te ponte


meu amor eu escalo

meu amor os teus montes

meu amor eu inalo

meu amor teus flagrantes


meu amor eu te antes

meu amor te permeio

meu amor eu te planto

meu amor eu me seio


meu amor eu te arco

teu amor te emana

meu amor eu te marco

e tu me adriana


Fotografia: Henri Cartier Bresson - FRANCE. PARIS 1968. Boulevard Diderot.
© H. C. BRESSON/MAGNUM PHOTOS

13 março, 2006

restos mortais

O jazigo dos Menezes é aquele ali: o mais sombrio, o mais macabro, mas o mais curioso. Não há quem não pare por ali para dar uma espiada no caixote de ossos aberto, nos restos de um esquife, nas flores que inexistem, na solidão dos líquens e de alguma enredadeira que viceja ao pé da gárgula, no ângulo superior esquerdo de quem o vê de frente.

nos dias em que me uruguaiano 2

Na sombra de umbú de infância
fiz parar o homem cansado
em que me tornei. Agora, o homem cansado
tirou do bolso a semente
de um umbú rememorado. E passa o resto da vida
ali sentado encurvado,
entre os verdes de um futuro e a cor amarelo cinza
das folhas do seu passado.

11 março, 2006

"O Nescau, a ausência e os estagiários movem o mundo."
constatação minha e de luciano nessa neste sábado

09 março, 2006

Casos daqui

Quero cantar Porto Alegre
O porto que há, sim, casais
mais dos que posso ver
De longe, de perto
Você, minha doce desconhecida
Te vejo refletida em cada pupila
Dos que (hoje) tenho encontrado
E daqueles que os quero sempre
Quero gritar silenciosamente Porto Alegre
Mesmo que muitos já o fizeram
Não tive, antes, o prazer
Esse que, a partir de agora,
faço questão de ter.

06 março, 2006

Domingo no Jaconi

Pois então. Começa a segunda de novo. Depois do massacre neo-fascista de ter ido a Jaconi ontem. Já havia confessado meu amor por essa cidade - a duras penas, carece ser dito - mas a experiência de ficar no meio da torcida juventudista e sentir, literalmente, os seus bafios perversos, fez a pontuação da cidade cair um pouco em meu coração destrambelhado. E se a atitude do jogador foi racista, você devem imaginar a torcida que lhe dá suporte: racista sim, com todas as letras, e sexista, e chauvinista, e todos os piores istas que vocês podem inferir, acreditem. Nada contra o Juventude enquanto clube, nada contra a parcela da torcida que não se comporta como a maioria, mas tudo contra essa estupidez humana chamada torcida organizada. Organizada em torno do ódio contra quem não lhe é igual. Se alguém dissesse, ainda que por brincadeira, que eu era ali um gremista (a acompanhar o filho no lugar do estádio supostamente mais tranqüilo), corria o risco de ser espancado por algum idiota metidinho filhinho de papai ridículo enfiado em suas indumentárias de mastigoto covarde. Saí do estádio a faltar uns dois minutos pro fim do jogo, e já decidi que - mesmo que não torça pra ninguém - meu lugar é na torcida do outro lado, lá no barro, atrás da goleira que dá pro mato.

02 março, 2006

Micro Conto nº 7 "O Tradutor"


Em uma plaqueta,
pendurada na porta de uma casa
que havia na rua daquela cidade,
estava escrito :

- Traduzo esperanto, grego, latim, sânscrito...e outras línguas mortas.

24 fevereiro, 2006

um pouco do Rubaiyat...(*)


Eis a única verdade:
Somos os peões no xadrez
Que Deus joga. Ele desloca-nos
Para diante, para trás,

Detém-nos, de novo impele-nos,
Lança um contra outro ...
Depois um a um nos mete
Todos na caixa do Nada.






(*) ...nestes tempos intolerantes. Omar Khayyam, poeta persa (c.1050- c.1123), aqui traduzido por Manuel Bandeira, é uma dessas almas imorredouras, recalcitrantes e iluminadas. Ilustra:David Everett

preferências


Prefiro morrer de vodka do que de tédio (Maiakovski)
Prefiro toddy ao tédio (Ledusha)

Prefiro mezcal - ops - nescau.

para todos os efeitos, o relógio deste blogue continuará no horário de verão.















De Canto Grande a Macuco, em barco, dias atrás.

22 fevereiro, 2006

felicidade se acha é em horinhas de descuido *


a moldura vermelha dos óculos avisa com precisão:
o mundo hoje se enquadra melhor do que ontem.
pouco a pouco o sim brota da pele, do corpo, da boca que fala

eis que peso a medida do não.

sem que as lentes me digam, sem que o dedo apontado acuse
hoje sei que o disco risca, hoje sei do pisca-pisca, atrás dos óculos ou das ruas
lentamente, não há quem insista, nem mesmo o olhar que me faz

eis que os passos correm delicados, à sua medida e discrição.

* título fisgado pela beleza do verso de guimarães rosa

29 (*)

ofereço-te o destino dessa flor, esse antebraço

com outra flor ainda não trazida,

de onde flora lenitivo um vaso.


nas mil e uma noites do dia vinte e nove,

meu torso de perfil – aceita e prova -

meu te ofegar sob a melhor camisa

e o cordão de estrelas no nanquim do espaço.


toque de leve por sobre a blusa na noite tua

fala de dedos, luva difusa, seda de luna

pra que floresçam, apascentadas, duas verbenas.


sobrando filme na minha máquina de imitar,

uns instantâneos eu te ofereço

do coração.


e uma a uma das cem fogueiras de Escorpião.


(*) toma, minha pequena, aceita e prova deste coração que apascentaste.

20 fevereiro, 2006

OBSERVAR AS CRIANÇAS COM OLHOS INFANTIS
É A MELHOR MANEIRA DE SE RECORDAR
OS PRIMEIROS ANOS DE VIDA,
EMBORA ESTES TENHAM APRENDIDO A DESCER
DO BERÇO DA MEMÓRIA
E ESCAPULIDO PRA NÃO SE SABE ONDE...

19 fevereiro, 2006

Micro Conto n° 6 " O Anônimo"


Deu um grito estridente e longo. Como quem nasce reclamando.
Nasceu forte, sarado, corado e "rochunchudo".
Os pais, de tão orgulhosos consultaram livros, agendas, amigos e manuais para achar um nome que melhor se adequasse a eminente personalidade do forte e saudável menino.
Seu futuro dependia disso.
Depois de muita pesquisa o batizaram.
O escrivão contrariado, indeciso e vacilante, não hesita e frente a convicção da mãe honrosa, insiste dizendo :
- A senhora tem certeza? Talvez isso prejudique as futuras pretensões sociais do menino.
Ela obstinada repete :
- O filho é meu. Seu nome será Anônimo !