o cheiro é de chuva que ainda não veio
vai ter vento forte revirando estes papéis, eu sinto
nove anos rabiscando (pulso doído)
só ontem rasguei cinco outonos
tem tanto branco nesse chão de pedra que até posso deitar macio
mas tem o outro...
ele me importa mais
só que eu não gosto de passar a limpo
vou plantá-lo perto de alguma flor aqui mesmo
só agora percebo... que dou passos ao redor da casa
aproximo meu corpo da janela do quarto
atravesso o vidro com um olho só
a meia luz que enxergo lá dentro desvela um fio
que vai do espelho até o armário e desse até a porta
depois eu perco
o que me liga a ti muitas vezes é encanto
puro cheiro, memória
tu indo embora
para outras tantas é pavor
ora te desejo quente
ora te condeno ao choro
e a esse silêncio
eu sinto, vou sempre seguir contigo
por todo o azul e negro que tu tens nas veias
mas te aviso
não quero te ouvir
quando puder eu canto
e ficarei olhando as linhas tortas
brotando dos papéis aqueles,correndo o pátio
subindo os muros,vazando a terra
escuta... começou a chover
sobre a nossa cama
2 comentários:
lindo, amiga minha!
lindo mesmo.
me emocionou.
"ora te desejo quente
ora te condeno ao choro
e a esse silêncio
eu sinto, vou sempre seguir contigo"
uma punhalada isso. bonito de doer. sabes como toca.
vôa, querí, de abraços abertos rumo ao infinito. hoje e sempre.
Quanta beleza tem essa dor, mas por mais que desejes o silêncio, essa dor reverbera. Corre. O peito dói. Saudade? Não só. É mais. E tudo se explica. Basta fechar os olhos:
"e ficarei olhando as linhas tortas
brotando dos papéis aqueles,correndo o pátio
subindo os muros,vazando a terra".
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