Ela se pinta, se ajeita, se depila, se faz bonita para o que há de acontecer. E nada acontece. Há tempos que nada, absolutamente nada de novo acontece, mas ela cumpre seu rito como se nenhuma dor fosse essa. Antes ficasse despenteada, de cara lavada e mesmo peluda se à sua volta possibilidades de encontros e possíveis amores não surgem. E não surgem porque vive mês após mês pensando na impossibilidade de paixão que se foi. Se foi sem nem uma despedida, um chopinho de adeus, uma saidela de goodbye. Nada. Neca de pitibiribas. Enquanto toma banho pensa nas suas travas emocionais e na gilete, velha, ao lado do sabonete da Malu Mader. Como se tomar banho com Lux Luxo te deixasse com a pele da morena da novela. Ela queria crer nisso. “Pele de Malu, pele de Malu” – dizia a si mesma, ao mesmo tempo em que esfregava o Lux pelo colo e pelo pescoço (ninguém lava o pescoço, mas ela sim). Ela gosta de frango empanado com Nescau, e gosta de comê-los limpa e depilada ouvindo Adriana Calcanhoto. Ela é blasé e não sabe. Quando põe o primeiro pedaço de frango na boca cantarola: “Depois de ter você, pra quê querer saber que horas são?”.
* Inauguro aqui a presença feminina no blog, muito timidamente, a convite do querido Marco. Este foi publicado no zine Krak-à-Toa, mas é um começo, pra sair da toca. (Dica para ser lido ao som de "Cantada", da Adriana Calcanhoto).
2 comentários:
benvinda camila querida a estas paragens blóguicas. rarefaz, ó doce criatura, o ar moteado de testosterona que desse blogue evola. saiba que agora começaste uma viagem que, tampouco, tem volta. gracias.
escreve mais escreve, escreve mais
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