Há tempos eu não via um show tão maravilhoso quanto pude presenciar na noite de ontem. Vanessa da Mata fez lotar o Teatro do Salão de Atos da UFRGS através do Circuito Cultural Banco do Brasil. Fui vê-la porque desde que escutei “A força que nunca seca”, de autoria dela e o Chico César, na voz da Bethânia, eu fiquei impressionada, mas confesso, não esperava grandes coisas.
Tudo já começou muito bem com a abertura do Duo Araucária, com música instrumental da melhor qualidade, fazendo uma fusão de Jazz, Samba, ritmos tradicionais do Nordeste e por aí afora. Faz muito também que eu não participava de uma platéia tão em sintonia, animada, com um astral de prestígio ao artista. Vanessa adentrou no palco e na primeira música já pensei: “putz, de onde surgiu essa mulher?”. Um furacão. Um furacão com um jasmin preso às madeixas, pés descalços e saia rodada.
A presença cênica, de palco, dela é muito forte e percebe-se muito natural. Ela e sua vasta cabeleira encantaram o público da primeira à última canção. Acompanhada de uma banda de apenas três músicos jovens (um tecladista que se revezava entre o piano, acordeon e violão e aço, um baterista que fazia a vez da percussão e samplers e um guitarrista-baixista que também tocava violão) a cantora e compositora teve sua coroação em Porto Alegre.
Vanessa tem uma extensão de voz muito bonita, atinge os agudos de uma maneira intensa, sabe colocar a voz quando a canção exige mudanças e tem o grande mérito de transformar canções tão conhecidas de modo a que a gente esqueça o próprio registro original. Esse foi o caso de “Tempo perdido”, inesperada da Legião Urbana, executada no bis apenas com o som de um baixo e que ficou completamente irreconhecível – e linda.
As composições próprias, além de letras muito boas têm ritmos que passeiam sem permanecer em nada na mesmice. Um dos pontos altos de emoção foi “Case-se comigo”, canção que eu havia escutado à exaustão nos últimos dias e que levou muita gente naquele teatro às lágrimas. Além de muitas composições autorais, Vanessa cantou com propriedade desde Roberto e Erasmo Carlos, passando por cantiga de roda e até a maravilhosa recriação de “História de uma gata”, do musical Saltimbancos, do Chico, levantando a platéia com um entusiasmo difícil de ver.
Várias foram as vezes que entre uma música e outra a moça foi aplaudida de pé. Nem ela parecia acreditar em tamanha receptividade. Se dizia encantada. Ao final do bis muita gente saiu da sala, mas a maior parte do público permaneceu e pediu por mais um durante muito tempo. Ela voltou, agradeceu muito, confessou a surpresa com aquilo tudo e disse que como de fato não havia preparado outro bis poderíamos escolher o que queríamos ouvir. Muitos gritos de “Não me deixe só”, mas ela disse “ah, ‘Não me deixe só’ pela terceira vez e vocês não vão mais me agüentar”. Mas com muita graça ela contou a história da canção e cantou mais uma, muito emocionada.
É muito bacana ser surpreendida por algo que nem se esperava tanto ou tão grande. Falando aqui pode nem parecer tão impressionante, diz-se afinal que falar sobre música é como dançar sobre arquitetura. Não há como traduzir isso que nos toca fundo na música, mas foi um show pra ficar na memória, por muito tempo. E que a força de Vanessa nunca seque.
Um comentário:
A Vanessa vai participar da gravação, no próximo dia 13 de dezembro, de um tributo ao Renato Russo no Rio de Janeiro que depois será exibido no canal Multishow, talvez por isso ela cantou "Tempo Perdido" do Legião Urbana.
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