08 dezembro, 2005

Átrio


Fiquei a manhã inteira absorto,
observando meu avô que lia um grosso volume sentado, em silêncio, ereto em uma cadeira no átrio de casa.
Dele, além do nome, herdei - na minha opinião - seu melhor hábito :
Cobrir livros.
Com ele aprendi a cobrir os livros,
encaderná-los com jornal,
ocultá-los com papel de seda,
protegê-los com qualquer material que servisse para embrulho.

Sempre achei este hábito um pouco insidioso e traiçoeiro; mas mantê-lo, soava para mim como um atavismo ímpar.
Isso, me satisfazia, me dava um enorme prazer.

Alguns anos mais tarde fui indagado :
Por que cobrir os livros ?

Fiquei pasmo, mudo, atônito.
Não soube o que responder, afinal era um hábito, uma mania, um costume, quase um vício
e vícios não se explicam - na verdade eu não sabia porque o mantinha - não fazia sentido.

Velho miserável ! Maldito Costume !
Bravejei comigo mesmo...

Comprei a primeira passagem para a cidade de meu avô.
Corri até a sua casa, subi a escada que leva ao átrio, lá estava ele.
Sentado, em silêncio, ereto, lendo um grosso volume coberto com papel jornal.
Receoso de sua reprovação, de seu desprezo e censura perguntei :

- Meu Avô , por quê cobrir os livros?
Ele, com um sorriso malicioso e irônico no rosto, calmamente me explica :
- Garoto, não é bom exteriorizar a leitura.

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