26 dezembro, 2005

۞ Os corredores verdes*













۞ prólogo ۞

Os passos, provindos de seis pés distintos, reboam no longo corredor de cerâmica verde esmaecida. Já ali na entrada do corredor o som dos passos é ouvido como se viesse de longe, talvez do final do corredor, mas na verdade é o contrário que ocorre. É uma criança que vai por último, uns oito ou nove anos, um homem adulto recém-banhado e cheirando a sabonete Phebo segue entre a criança e um ancião que os guia.

É um caminho longo, este corredor, um caminho que iniciou há um ano atrás aqui mesmo nesta escola de padres maristas. Pelo menos é o que parece agora ao menino, desde que avistou a primeira vez aquele homem que neste momento não é mais que mero fantasma a se esbater nos corredores verdes de sua lembrança. Nos corredores desta escola gigantesca, onde o menino estudará daqui a alguns anos, quando já não será mais um menininho troteador de sandálias gastas, tímido e terno, e se lhe assomará a interminável adolescência que ainda hoje corrompe soberbamente o adulto que pensa lembrar desta história sobre este homem desaparecido e estranho, sobre este homem incomum que, na penumbra amarronzada do amanhecer na campanha, sumiu e sabe lá diabos onde está agora, com nada a não ser o seu mistério gravado como uma tatuagem indelével em uma parte do corpo que ele não pode olhar, ele nem ninguém, e com umas calças de tergal, uma camisa com desbotada estamparia floral, um par de sapatos mocassim roto sobre os pés nus.

Pronto, chegaram. O padre-ancião abre a porta velha, mas pintada há pouco tempo, daquele tom púrpuro profundo comum aos sóbrios colégios maristas. E aquela jornada que começou há um ano atrás - uma atmosfera mortífera que exala agora mais forte quando um ventinho vindo da beira do rio Uruguai entra junto com aqueles três visitantes - parece longe de acabar.


(*) inicio aqui tentativa de folhetim. não arreparem.

Um comentário:

Caleidoscópio Eterno disse...

Continue com seu folhetin... e obrigada pela contribuicao literaria...