02 dezembro, 2005

substância inominada*


febre de não ter ido ao Congo.
febre de não ter visto a nuvem.
febre de não ter feito um conto.
também de não ter doído ontem.

calafrio ruge uma agulha no osso.
calafrio punge um velame ao cravelho.
calafrio cruza as metades de um joelho.
também funde a crisálida ao pescoço.

suor subir dos pés à substância inominada.
suor lamber a casca da ameixeira-de-palustre.
suor mover os pinos pretobrancos de um desastre.
também guardar o chão de Ebenezer na prateleira.


(*) A substância inominada situa-se na base do cérebro, superiormente ao trígono olfatório e à substância perfurada anterior e ventralmente ao globo pálido e à comissura anterior.
(*) poema do meu inédito "Anel postiço em merengue" (Edições Pórco Júpiter)

Um comentário:

Caleidoscópio Eterno disse...

Marco... a sensibilidade realmente é a pequena salvação... tão pequena e intrínseca que quase não vi ela passar...
Obrigada!