15 dezembro, 2005


Ontem ela roeu todas as unhas. Só não roeu tanto a do mindinho porque pouca unha tinha lá - nada mais restava a não ser um sanguezinho no canto e aquela dor de beliscão que agora ficara em seus dedos. Roeu todas as unhas enquanto ouvia Chet Baker e pensava que queria muito era viver em outro lugar.

A cidade, que agora lhe cabia nas palmas das mãos de unhas roídas, já não lhe entregava surpresas, não reservava esquinas que ainda não tinham sido cruzadas, avenidas novas para serem atravessadas. Nada. O vazio dos carros, dos postes sem luz, das gentes de atar em postes também. Até os loucos todos ela já conhecia.

Não dá pra se viver num lugar onde a gente já sabe da maioria dos loucos. É preciso haver loucos escondidos, loucos pra se revisitar, loucos debaixo de escadarias, loucos fazendo malabares com objetos invisíveis. E ali já não mais havia louco algum assim, louco novo, tinindo de esquizofrenia.

Tentou levar os pés à boca, pra ver se ao menos a unha do dedão não conseguia roer também. Nada. Os anos de exercícios não praticados só lhe valeriam a falta de flexibilidade, além da farta e vasta preguiça. E lhe dava uma preguiça imensa lembrar que é preciso mudar. Mudar dói. Mais do que roer unhas com afinco ao som de Chet Baker.

4 comentários:

Anônimo disse...

louco novo hahah
malabares no sinal
sinai

é... dói mesmo é ficar

Anônimo disse...

não fica, clarissa.
vem.

Anônimo disse...

a dorothy diz que vai..:)

Cláudio B. Carlos disse...

Oi Camila!

Que tal nossa participação no programa da Universidade FM? Foi legal conhecê-la. Gostei do teu som. Entrei no Trama Virtual e baixei tuas músicas...

Beijos do CC.