Povo de Deus *
Alexandre Florez
Eis que nosso Deus
nunca foi branco
da cor da columba do espírito santo
mas de raça mestiça nascido dos hebreus.
Fala uma língua esquecida
que o povo compreende
é artista de circo, teatro mambembe
contador de histórias
pescador e artesão.
Nosso Deus é mulato e saiu de passista
destaque no asfalto, ele é malabarista
com trejeitos nagô e ginga de afoxés.
Não tem olhos azuis, não é caucasiano
é hindu é Mané é Vavá é cigano
é mestre Jacó tocando bandolim;
nosso Deus reparte o quanto tem
entre os vagabundos,
acolhe os desvalidos
toda escória do mundo
prefere os humildes
não se sabe porque.
Deixou as catedrais, foi morar
nas malocas
viver nas palafitas, nos barracos, nas choças
e entre a gente no morro
desapareceu...
(*) obra-prima desse brilhante compositor gaúcho, lá de Cachoeira do Sul, contemporâneo de nosotros. Seu primeiro disco Caminho dos Engenhos (Fumproarte, Porto Alegre, 2003), assim como o trabalho de Vinicius Todeschini comigo de parceiro (Arrebaldeação, Fumprocultura, Caxias do Sul, 2003) e o de Otávio Segala (Otávio Segala, Fumproarte, Porto Alegre, 2003) dialogam em becos, tranversais, linhas de trem e terrenos baldios, na geografia da nossa multifacetada e criativa música popular (ou impopular, como diz o Vinicius). Não consigo tirar o disco do Alexandre do aparelho.
2 comentários:
Eu tbm imagino um Deus que nao é pintado... que foi morar nas malocas... lindo, Marco!
é, diga isso ao Florez, esse monstro. Ele tem Orkut.
abraço.
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