meu tio
que enfiado em sintéticas botas
caçava o nada na charneca.
meu tio que adentrava
na biblioteca
os pés embarrados
em busca do livro
sem fim.
lá ia meu tio
no pasto amarelo
com seus perdigueiros
pegar pelas asas
a ave invisível.
levava no bolso
rosáceos cartuchos
charutos molhados
analgésico ácido
lá ia meu tio.
de camisa amarela
crocodilo no peito
aros grossos na face.
um pedaço partido
do Ulisses
perdido em seu bolso.
(*) Marco de Menezes, Pés de Aragem, 2005, inédito. Poema para meu tio Álvaro Goulart de Menezes, já em outras paragens caçando sua perdiz predileta. Graças a ele adentrei no universo mortífero e maravilhoso da literatura, com cheiro de pólvora, paisagens de rio entardecendo y la sangre en mis manos. A pedidos de minha mãe, que não o leu, publico aqui essa lembrancinha. Vem ilustrado este postado pelo mestre M.C. Escher.
2 comentários:
Putz, Marco pára com essa tortura. Cada novo poema do teu livro ainda não vindo me deixa desesperado pra ler o resto. Plamordedeus se é que existe por essas plagas: publica esse livro.
pô, meu velhinho querido, tu me surpreendes com teus comentários amorosos e cada vez mais assíduos.
que bom gostaste das linhas
que torto eu garatujo
caramujo deixando rastro
em tijolo ravina musgo.
cada vez que te respondo
sempre salta um verso novo
e eu bobo me escondo.
caramujo.
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