10 novembro, 2005

esse samba vai pro Stan Lee, pro compadre Anescar e pro Sérgio Sampaio.



samba do desencaixe


como a cordinha do brinquedo não encaixa
como a moeda não encaixa no cofrinho
como a caixa dentro doutra dentro doutra não encaixa
e não encaixa o bilboquê no seu furinho

como a macega não encaixa no ancinho
e couve-flor não se cria em apartamento
não encaixa esta face em meus espelhos
nem a mirada que se mira um só pouquinho

não encaixa essa sandália no asfalto
se não encaixa pavlov em meu lacan
as mãos queridas buscam névoa não alcançam
eis que a névoa não se encaixa na manhã

num desencaixe vai vagão por sobre o trilho
que sabe a mão do maquinista manejar
se num instante desencaixa o maquinista
vagão e trilho vão por fim desencaixar

como a mandrágora não se encaixa na salada
e salamandras não freqüentam serpentários
o cubo mágico não encaixa não encaixa
geladeira não conversa com armário

como a sandália não se encaixa no pezinho
nem o pistilo se encaixa ao gineceu
esse sorriso nessa boca não encaixa
e o rochedo não se encaixa em prometeu

quem sabe a flor que jaz mortífera no lodo
quem sabe a brisa suicida do crepúsculo
talvez a onda tombe funda lá na lua
talvez do todo edifique-se o escombro

se nos x-men não se encaixa o volverine
no peito o tolo não encaixa não encaixa
na caixa alta dos motivos mais mesquinhos
na caixa baixa dos destinos mais esconsos

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