04 novembro, 2005

dez e um pouco

o sol não cai mas a gente fala que cai, sobre as ruas, sobre os carros, sobre a cara das pessoas, os corações, sobre os claros olhos, sobre a perna sincera do aleijado que rasteja na vinte de setembro essa hora, dez e um pouco, sobre esse relógio impossível que é o dia na cidade, sobre o ódio que late feito cérbero, sobre caronte adormecido, sobre a foto de infância que repousa na gaveta, sobre as pastagens do bonito, sobre a carne. o sol feito um chato querendo te acordar às sete e quinze, o sol alumiando a charneca em flor, o charco sorridente, o pasto assoviante, as gavinhas translúcidas da manhã botânica do mundo. ah o sol, um charque. sol de brasa fria, sol dos sedentários, sol das cadernetas e das compotas. ah sol sobre as lajotas, sobre os gerânios, sobre os velames, sobre os iliotes. sol que na minha janela oscila feito um cetim levíssimo, um galeão de ouro. sol feito um chato querendo te acordar no melhor do sono tampouco. o sol não cai mas a gente fala que cai.

bom dia.
amanhã chove será.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que bonito isso.
Bonito mesmo.
Solar e límpido.

Bom dia :-)